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Quiasmo

Quiasmo é uma noção que deriva de um conceito grego, referido a algo cuja disposição é cruzada. O termo é usado para designar uma figura literária que implica trocar a ordem dos elementos de duas sequências.

O quiasmo, por conseguinte, tem lugar a partir da repetição de frases ou termos iguais, mas de forma cruzada e conservando uma simetria. Isto provoca uma significação particular na expressão e reforça uma ideia, já que a repetição cruzada causa surpresa e leva a refletir sobre o dito.

A estruturação do quiasmo pode entender-se sob a forma de enumeração, na qual os elementos se repetem em ordem invertida: 1-2-3-3-2-1. Vejamos como se desenvolve o quiasmo com um exemplo.

1: Acordei. / 2. Peguei num livro. / 3. Comecei a ler. / 3. Acabei de ler. / 2. Deixei o livro. / 1. Adormeci.

O quiasmo expressar-se-ia da seguinte forma: “Acordei, peguei num libro e comecei a ler. Quando acabei de ler, deixei o libro e adormeci”.

Outro exemplo de quiasmo poderia ser o seguinte: “Quando faço por me lembrar, não me lembro, mas às vezes lembro-me sem fazer por isso”. Como se pode verificar, há uma troca na ordem: aquilo que realça o quiasmo é que, se a pessoa fizer um esforço para se lembrar de alguma coisa, não se consegue lembrar. Mas, no entanto, às vezes, as lembranças aparecem na sua mente embora não estando a fazer qualquer esforço nesse sentido.

O quiasmo é uma figura de linguagem que pertence à família das antíteses, o qual também é conhecido como “antimetábole”. Muitos costumam definir que essa é uma forma de fazer versos a moda antiga.

Para um melhor entendimento, podemos concluir que o quiasmo é como uma pessoa reescrevendo um livro ou contando uma mesma história com outras palavras.

A primeira vez que essa figura de linguagem foi observada foi no século XIX na Alemanha e na Inglaterra. No entanto, apenas nos anos de 1930 foi que ele começou a ser realmente estudado, aplicado efetivamente e apresentado ao mundo, com a ajuda de Nils W. Lund (reitor e estudioso bíblico).

Para além de fomentar a reflexão por parte do receptor, o quiasmo também pode ser usado para impulsar o pensamento abstrato.

É importante ressalvar a importância de prestar atenção detidamente ao conteúdo de um quiasmo para seremos capazes de o entender; dado que se trata de uma forma pouco direta de comunicar uma mensagem, o normal é que seja necessário ouvi-lo na sua totalidade para decifrar o seu significado.

Estas características, esta natureza pouco direta do quiasmo, não o tornam interessante para certas pessoas, especialmente para aquelas que sofrem de algum tipo de distúrbio a nível da concentração ou então aquelas que se possam sentir intimidadas perante os textos considerados rebuscados, que exigem atenção e esforço para serem compreendidos. De uma forma geral, é fundamental combinar a mera interpretação semântica com uma combinação de associações conceituais para abordar o significado de uma estrutura como esta.

Existe em retórica um tipo de quiasmo denominado comutação, que consiste em cruzar as funções sintácticas das palavras, para além de possuírem características antes mencionadas. Noutros termos, esta figura literária, que se encontra dentro da categoria de repetição, serve para reorganizar os elementos de uma oração de uma forma diferente noutra, para mudar a sua ordem ficando invertidas e que o seu sentido seja contrário àquele que tinham na primeira.

Um exemplo deste tipo de quiasmo é o seguinte: “Há muitas pessoas que são pobres embora mereçam riqueza, ao passo que outras são ricas e mereçam pobreza”. Como se pode verificar, tal como no exemplo das lembranças, exposta anteriormente, as palavras “pobres” e “ricos” mudam de posição para constituir um quiasmo. Porém, dado que se trata de uma comutação, as suas funções sintácticas também estão cruzadas: na primeira proposição, os “pobres” são, ao passo que na segunda esse atributo seja atribuído aos “ricos”.

O quiasmo marca presença na obra de muitos dos grandes autores da literatura, sendo usado para jogar com os diferentes aspectos da linguagem para produzir diferentes efeitos no leitor, nomeadamente com momentos de humor ou de tragédia, sempre acessíveis após a pertinente reflexão. Cabe mencionar que esta figura também aparece no cinema, ainda que não com tanta frequência.

Um dos livros mais conhecidos do mundo e que está repleto de quiasmos é a bíblia. Alguns exemplos que podemos extrair dela:

A – Torna insensível o coração deste povo,

B – endurece-lhe os ouvidos

C – e fecha-lhe os olhos,

C – para que não venha ele a ver com os olhos,

B – a ouvir com os ouvidos

A – e a entender com o coração, e se converta e seja salvo. (Texto extraído do livro de Isaías 6:10).

Veja que o exemplo acima consistiu no cruzamento de grupos sintáticos paralelos (de vocábulos), onde o grupo de vocábulo do primeiro repete-se no segundo de maneira inversa, muitas vezes até alterando algumas termos, mas com o mesmo sentido.

O quiasmo ou antimetábole é também frequentemente usado na prosa, veja um exemplo nessa citação do Padre Antônio Vieira: “De certos homens, dizia Sócrates, que não comiam para viver, mas só viviam para comer”.

Citação

Equipe editorial de Conceito.de. (11 de Outubro de 2015). Atualizado em 7 de Janeiro de 2020. Quiasmo - O que é, conceito e definição. Conceito.de. https://conceito.de/quiasmo