Antes de esclarecer o significado do termo sincretismo, vejamos a origem etimológica deste. Nesse sentido, trata-se de uma palavra que deriva do grego, mais concretamente de “synkretismos”, que é formada por três elementos diferenciados:
-O prefixo “syn-“, que se pode traduzir por “com”.
-O termo “Kriti”, que é sinónimo de “cretense”.
-O sufixo “-ismo”, que é usado para fazer referência a uma “doutrina” ou “sistema”.
Conhece-se como sincretismo a conciliação de diferentes doutrinas ou posturas. O sincretismo, deste modo, implica a fusão de diferentes elementos em uniões que, às vezes, lhes falta coerência interna.
Sincretismo cultural
É possível encontrar o sincretismo em diversos âmbitos. O sincretismo cultural, por exemplo, é o resultado do processo que é levado a cabo quando dois ou mais povos europeus entram em contato e as suas tradições se começam a misturar. Quando os conquistadores europeus chegaram à América, produziu-se um sincretismo cultural a partir do encontro entre ambos os povos. Em determinados casos, o sincretismo foi mais uma assimilação forçada da cultura dominante por parte dos povos conquistados, que conseguiram manter certas características próprias.
Sincretismo religioso
Os vínculos entre diferentes comunidades também podem derivar no sincretismo religioso. Este processo tende a desenvolver-se de forma espontânea quando duas religiões tentam conviver de forma harmoniosa no seio da mesma comunidade. O sincretismo religioso nota-se num hipotético grupo que crê simultaneamente em Jesus Cristo como filho de Deus e nas divindades hindus.
O voodoo, no Haiti, é outro exemplo de sincretismo religioso já que combina elementos religiosos africanos com características próprias dos povos das Caraíbas.
Na América também encontramos um claro exemplo de sincretismo religioso. Mais precisamente, encontra-se no Guatemala, mais exatamente na Igreja católica de Santo Tomais de Chichicastenango, onde também são permitidos os símbolos, as ideias e as crenças da religião maia. A explicação reside no século XIX, exatamente no ano 1800, dentro desse templo foi encontrado o que se conhece como “Bíblia Maya”, o manuscrito de Popol Vuh, por parte do sacerdote católico que aí trabalhava, quem não hesitou em lê-lo aos seus fiéis.
Por esse motivo, desde esse mesmo instante ficou determinado que as duas religiões são permitidas na igreja. Tanto é assim que os seus fiéis realizam ritos e oficiam cerimónias utilizando símbolos e elementos de ambas como podem as pétalas de flores, as velas, a aguardente…
Dentro do âmbito cultural, religioso e artístico, fala-se de determinados movimentos, estilos ou tendências como claramente sincretistas. Este é o caso, por exemplo, do helenismo, já que se considera que apostou por unir deuses Egípcios com Gregos, Romanos ou Fenícios.
Exemplos do sincretismo na religião
Sincretismo, logo, se trata da absorção de um sistema de crenças através de outro. E há como um exemplo dos mais conhecidos quando o cristianismo fez a absorção de elementos de distintas religiões europeias, desenvolvendo isso segundo os conceitos da igreja católica para que o cristianismo fosse disseminado pela Europa.
Um exemplo sobre isso seria o Natal, que era a princípio uma festa pagã com o objetivo de celebrar o nascimento do deus do Sol (que era o deus Mitra) e tempos mais tarde ficou associada ao nascimento de Jesus Cristo.
É importante citar que o sincretismo religioso se trata de um acontecimento que ocorre de forma natural ao longo da história.
Devido a ele ser a combinação de duas ou mais religiões, então para que isso suceda é preciso antes que haja um contato entre duas sociedades ou mais, com cada uma delas possuindo uma religião. E dentre os eventos históricos que podem contribuir para isso estariam: invasões, colonizações, guerras, entre outros.
Sincretismo na América Latina
Cada orixá (que são entidades cultuadas no candomblé e também na umbanda) corresponderia a um santo católico. Desse modo, diversos santos da igreja católica também recebem culto no candomblé e outros tipos de religiões afro-latino-americanas.
Uma curiosidade sobre isso é que durante a escravidão na América Latina os escravos encontraram um modo de enganar os senhores ao fazerem a invocação dos seus deuses na forma dos santos do catolicismo, desse modo eles poderiam cultuar seus deuses sem problemas, alguns exemplos são os seguintes: Oxóssi era invocado como São Sebastião, Ogum era invocado na forma de São Jorge, Ibeji como Cosme e Damião, Oxalá na forma de Jesus Cristo, Iansã como Santa Bárbara, entre outros.
Houve ainda a adaptação de rituais da África aos da tradição cristã, como foi o caso da Lavagem do Bonfim, que foi incorporada à cerimônia das Águas de Oxalá. Desse modo, os escravos realizavam manifestações públicas de culto aos seus deuses, mesmo dissimulando através dos santos do catolicismo e seus rituais.
No Brasil, que é considerado como um dos países mais religiosos do planeta, ao longo das décadas, houve dois momentos para o sincretismo religioso, sendo: quando foram misturadas coisas do catolicismo aos que pertenciam aos nativos e tribais, já em outro momento foi quando os elementos citados foram agora mesclados ao espiritismo e ao neopentecostalismo. E tudo isso fez com que o país detivesse uma rica diversidade religiosa.
Na política
A ideia de sincretismo chega inclusive a ser aplicada à política. O sincretismo político está relacionado com o movimento ou partido que combina elementos de uma doutrina de direita com facetas próprias da esquerda, duas posturas que teoricamente são opostas.
No âmbito da linguística, por último, o sincretismo implica que pelo menos dois elementos linguísticos se expressam numa única forma. Isto significa que diversos valores morfossintáticos compartem uma terminação.
Equipe editorial de Conceito.de. (31 de Julho de 2016). Atualizado em 14 de Dezembro de 2022. Sincretismo - O que é, exemplos, na religião e na política. Conceito.de. https://conceito.de/sincretismo