Não-lugar é um conceito explorado principalmente pela antropologia e a filosofia. O termo se popularizou através do antropólogo francês Marc Augé na sua obra intitulada: Não-Lugares: Introdução a uma Antropologia da Sobremodernidade.
Em termos gerais, não-lugar (também escrito não lugar em português do Brasil) remete aos espaços que não dispõem de uma identidade cultural forte, em que as relações humanas se traduzem em relações transitórias e anônimas. Esses lugares são comumente ligados à modernidade, globalização e também a urbanização.
Dentre os exemplos de não-lugares se pode citar: aeroportos, shopping centers, rodovias, estação de trem, hotel, supermercado, drive-thru, fast-food, metrô, parque de estacionamento, terminal e demais espaços que servem em especial como locais de passagem ou para a realização do consumo, onde as interações humanas por vezes necessitam de um significado mais profundo.
A ideia de não-lugar ressalta a experiência de anonimato e a ausência de conexão cultural em determinados espaços contemporâneos, em contraste com lugares tradicionais que possuem uma história cultural abastada e relações sociais com mais profundidade. Tal concepção proporciona uma lente para compreender as mudanças sociais e culturais na globalização e modernidade avançada.
Não-lugar e os espaços públicos
No contexto do debate a respeito dos espaços públicos, surge a reflexão quanto a divisão entre o conceito tradicional que remete ao local coletivo e as transformações aceleradas que delineiam os centros urbanos atuais ao redor do globo.
A dinâmica de tais espaços, antes tidos como o núcleo da vida coletiva, agora é transposto por nuances que provocam as concepções habituais de espaço público e de lugar.
Conforme as metrópoles progridem num ritmo acelerado, a antropologia é destaque como uma disciplina que atua questionando e investigando as intricadas afinidades entre espaços fisicamente estabelecidos e as interações sociais que ali ocorrem. O trabalho de Marc Augé ecoa então nesse contexto.
O trabalho desse antropólogo explora em especial os desafios atribuídos pela “supermodernidade” em grandes cidades. E é ali em que as fronteiras entre o público e o privado se convertem em algo cada vez mais brando.
A noção de não-lugar, apresentada por Augé, esclarece sobre espaços que fogem à definição costumeira de lugares de convívio social.
Os não-lugares, como é o caso de aeroportos e shoppings, desafiam a comum ideia de espaço público, posto que as suas propriedades transitórias e impessoais repercutem com as alterações na dinâmica social contemporânea.
Em oposição ao conceito de espaços públicos como lugares para encontros e interações comunitárias, os não-lugares demonstram a natureza passageira e despersonalizada das interações modernas entre os seres humanos.
Desse modo, a conversação entre os não-lugares, as transformações urbanas e também as ideias sobre espaço público traz uma abordagem de maior complexidade e mais desafiadora para entender a sociedade moderna e as relações interpessoais que a distinguem. Em tal cenário, os conceitos clássicos são colocados à prova, estabelecendo que haja uma reavaliação frequente das dinâmicas que determinam os espaços coletivos.
Impactos dos não-lugares em diferentes âmbitos
Os não-lugares, sejam os mesmos físicos ou digitais, dispõem de impactos expressivos nas dinâmicas sociais, culturais e também individuais.
Em locais assim classificados, como aeroportos e shoppings, o anonimato se mantém, conduzindo a interações impessoais. Isso resultaria numa sensação de separação, o que ainda causaria a diminuição da qualidade em relações sociais.
Há ainda que citar a falta de pertencimento nesses lugares, desafiando a formação de identidades locais. Os indivíduos ali poderiam se sentir desconectados das comunidades.
A internet também proporciona ambientes que, mesmo que não sejam tangíveis no sentido tradicional, ainda seriam considerados “não lugares” por causa do anonimato e falta da uma identidade cultural concreta, por exemplo.
O anonimato no contexto digital culminaria em comportamentos mais impulsivos e, em certos casos, negativos. Essa falta de interações face a face ainda reduziria a compreensão mútua. Além disso, a participação em comunidades online levaria as pessoas a assumirem diferentes personas em variados contextos digitais. A utilização demasiada de espaços digitais e a frequente procura por validação online ainda teria impactos negativos na saúde mental.
Mudanças de perspectivas sobre não-lugares
Um estudo feito pelo pesquisador Marco Lazzari em 2012, duas décadas depois das reflexões de Marc Augé a respeito dos não-lugares, aborda sobre a mudança de perspectiva quanto aos shopping centers, ainda mais entre os adolescentes.
Enquanto os adultos, ao menos na Itália, veem os shoppings como não lugares, a pesquisa sugeriu que os adolescentes os veem diferente.
Com nessa pesquisa nela, que analisou uma elevada amostra de adolescentes, se constatou que os shoppings não são somente espaços para compras, mas ainda locais intencionalmente selecionados para a realização de encontros sociais, interagir com amigos e, ainda, para momentos de diversão.
Desse modo, isso demonstra uma modificação na função notada dos shoppings, que ultrapassam os meros locais de consumo e tomam um papel mais fundamental como locais de convivência e socialização voltados para a geração dos chamados nativos digitais (que são aqueles que nasceram numa época em que já tinham acesso a tecnologias como celulares, internet, etc.).
SOUSA, Priscila. (19 de Dezembro de 2023). Não-lugar - O que é, conceito e definição. Conceito.de. https://conceito.de/nao-lugar